sábado, 29 de maio de 2010

NOSSA FORÇA ESTÁ EM DEUS !

Diz o livro dos Provérbios (15,30): “Um olhar luminoso alegra a alma; uma boa notícia revigora os ossos”.

Que dizer então desta boa notícia: “Convertei-vos, pois o Reino dos Céus está próximo” (Mt 4,17) e ainda: “O Reino de Deus está no meio de vós”(Lc 17,21)?

Esta é a notícia que não só nos revigora os ossos, mas a alma. Esta notícia, quando recebida, acreditada e vivida nos ressuscita, nos leva à vida eterna! Quando dizemos que nossa força vem de Deus, estamos afirmando que nossa vida está nEle e que fora dEle não há vida verdadeira! Todos precisamos da força do Alto, do Espírito de Deus, prometido por Jesus para que nossa alma se revigore, para que nossa mente se ilumine, para que nossa vida se transforme! No Dom do Alto está nossa alegria, o sentido de nossa existência, a resposta para nossas perguntas mais inquietantes, a água que sacia nossa sede, o pão que mata nossa fome!

Mas precisamos aprender a confiar, Jesus confiou sempre no Pai, Maria confiou sempre em Deus. Mesmo em meio a atrozes sofrimentos a confiança era mantida, porque aquilo que muitas vezes o mundo julga como fracasso para os filhos de Deus é, na verdade, vitória. O mundo não compreende porque, mesmo em meio a sofrimentos e dificuldades, teimamos em crer. Porque através do Espírito que habita em nós temos a certeza que nossa vida está escondida com Cristo em Deus (Cl 3,3), temos a certeza do triunfo sobre os males em razão da esperança que está reservada para nós, da qual tomamos conhecimento pelo Evangelho (Cl 1,5).

Paulo diz à comunidade de Corinto: “De fato, irmãos, reparai em vós mesmos, os chamados: não há entre vós muitos sábios de sabedoria humana, nem muitos de família nobre. Mas o que para o mundo é loucura, Deus o escolheu para envergonhar os sábios, e o que para o mundo é fraqueza, Deus o escolheu para envergonhar o que é forte. Deus escolheu o que no mundo não tem nome nem prestígio, aquilo que é nada, para assim mostrar a nulidade dos que são alguma coisa. Assim, ninguém poderá gloriar-se diante de Deus” (1Cor 1,26-29). Aqui nos fica claro que o conceito de força que o mundo tem não é o mesmo que o de Deus. De fato, o mundo recebeu o Verbo de Deus encarnado em meio à pobreza e fragilidade, sob os cuidados de um casal de pessoas simples e humildes, mas cheios da graça do Senhor! O próprio Cristo – quem o visse na manjedoura sem os óculos da fé, diria se tratar de uma criança pobrezinha e sem grandes perspectivas para o futuro – se faz humilde e frágil. No entanto, na humildade de Maria Deus demonstrou a força de seu braço, na fragilidade daquela criança nascida em Belém Deus elevou às alturas a dignidade do homem, na cruz ignominiosa Deus fez brotar para nós a salvação, fez da morte brotar a vida!

De um grupo de homens rudes, pescadoresm e muitos sem nenhuma formação, Deus fez os alicerces de sua Igreja – e que ciência e sabedoria naquilo que nos deixaram em seus testemunhos e palavras!

Que tipo de força podemos encontrar em nós mesmos, tão frágeis que somos, feitos de pó? Nossa força está em Deus, é nele que encontramos abrigo, como diz o salmista: “Eu te amo, Senhor, minha força, Senhor, meu rochedo, minha fortaleza, meu libertador; meu Deus, minha rocha, na qual me refugio; meu escudo e baluarte, minha poderosa salvação” (Sl 18, 2-3).

Nele confiou Abraão e tornou-se Pai de um grande Povo, nEle confiou Israel e foi libertado das garras do Faraó, nEle confiou Sansão e, com uma queixada de burro venceu o exército filisteu (Jz 15,9-20), nEle confiou Davi e venceu Golias (1Sm 17, 4-54), nEle confiaram os profetas e foram amparados, nEle confiaram os apóstolos e Paulo nos dá testemunho da fé na força que Cristo nos dá: “Tudo posso naquele que me fortalece” (Fp 4,3).

Qual o objetivo desta força que nos vem do Alto? Para que ela nos é dada? Somente para o nosso consolo?

Sim, o Espírito Santo é o consolador e Deus nos consola em todas as nossas tribulações, mas tribulações sofridas por amor ao Reino, pela fidelidade à Palavra do Senhor, pela constância nos seus ensinamentos, por resistir ao espírito deste mundo, por querer ser coerentes com o Evangelho! Mas esta força nos é dada principalmente para sermos testemunhas de Jesus Cristo! (At 1,8)

A todos nós Jesus dirige o mesmo convite dirigido a Pedro: “Segue-me” – e junto com o sim teremos a cruz, mas lembrados de que, pela força que vem do Alto, após a cruz há a Ressurreição!

Oremos: Vinde Espírito Santo...

Deus abençoe a todos.

Pe. Edilson de Souza Silva

Diocese de São Miguel Paulista.

quarta-feira, 19 de maio de 2010

Solenidade de Pentecostes

arc-pentecostes

No dia de Pentecostes o Espírito Santo desceu com poder sobre os Apóstolos; teve assim início a missão da Igreja no mundo. O próprio Jesus tinha preparado os Onze para esta missão aparecendo-lhes várias vezes depois da sua ressurreição (cf. Act 1, 3). Antes da ascensão ao Céu, ordenou que "não se afastassem de Jerusalém, mas que aguardassem que se cumprisse a promessa do Pai" (cf. Act 1, 4-5); isto é, pediu que permanecessem juntos para se prepararem para receber o dom do Espírito Santo. E eles reuniram-se em oração com Maria no Cenáculo à espera do acontecimento prometido (cf. Act 1,14).

Permanecer juntos foi a condição exigida por Jesus para receber o dom do Espírito Santo; pressuposto da sua concórdia foi uma oração prolongada. Desta forma, encontramos delineada uma formidável lição para cada comunidade cristã. Por vezes pensa-se que a eficiência missionária dependa principalmente de uma programação atenta e da sucessiva inteligente realização mediante um empenho concreto. Sem dúvida, o Senhor pede a nossa colaboração, mas antes de qualquer resposta nossa é necessária a sua iniciativa: é o seu Espírito o verdadeiro protagonista da Igreja. As raízes do nosso ser e do nosso agir estão no silêncio sábio e providente de Deus.

As imagens que São Lucas usa para indicar o irromper do Espírito Santo o vento e o fogo recordam o Sinai, onde Deus se tinha revelado ao povo de Israel e lhe tinha concedido a sua aliança (cf. Êx 19, 3ss). A festa do Sinai, que Israel celebrava cinquenta dias depois da Páscoa, era a festa do Pacto. Falando de línguas de fogo (cf. Act 2, 3), São Lucas quer representar o Pentecostes como um novo Sinai, como a festa do novo Pacto, na qual a Aliança com Israel se alarga a todos os povos da Terra. A Igreja é católica e missionária desde a sua origem. A universalidade da salvação é significativamente evidenciada pelo elenco das numerosas etnias a que pertencem todos os que ouvem o primeiro anúncio dos Apóstolos (cf. Act 2, 9-11).

O Povo de Deus, que tinha encontrado no Sinai a sua primeira configuração, hoje é ampliado a ponto de não conhecer qualquer fronteira de raça, cultura, espaço ou tempo. Diferentemente do que tinha acontecido com a torre de Babel (cf. Jo 11, 1-9), quando os homens, intencionados a construir com as suas mãos um caminho para o céu, tinham acabado por destruir a sua própria capacidade de se compreenderem reciprocamente. No Pentecostes o Espírito, com o dom das línguas, mostra que a sua presença une e transforma a confusão em comunhão. O orgulho e o egoísmo do homem geram sempre divisões, erguem muros de indiferença, de ódio e de violência.

O Espírito Santo, ao contrário, torna os corações capazes de compreender as línguas de todos, porque restabelece a ponte da comunicação autêntica entre a Terra e o Céu. O Espírito Santo é Amor. Mas como entrar no mistério do Espírito Santo, como compreender o segredo do Amor? A página evangélica conduz-nos hoje ao Cenáculo onde, tendo terminado a última Ceia, um sentido de desorientação entristece os Apóstolos. A razão é que as palavras de Jesus suscitam interrogativos preocupantes: Ele fala do ódio do mundo para com Ele e para com os seus, fala de uma sua misteriosa partida e há muitas outras coisas ainda para dizer, mas no momento os Apóstolos não são capazes de carrregar o seu peso (cf. Jo 16, 12). Para os confortar explica o significado do seu afastamento: irá mas voltará; entretanto não os abandonará, não os deixará órfãos. Enviará o Consolador, o Espírito do Pai, e será o Espírito que dará a conhecer que a obra de Cristo é obra de amor: amor d'Ele que se ofereceu, amor do Pai que o concedeu.

É este o mistério do Pentecostes: o Espírito Santo ilumina o espírito humano e, revelando Cristo crucificado e ressuscitado, indica o caminho para se tornar mais semelhantes a Ele, isto é, ser "expressão e instrumento do amor que d'Ele promana" (Deus caritas est 33). Reunida com Maria, como na sua origem, a Igreja hoje reza: "Veni Sancte Spiritus! Vem, Espírito Santo, enche os corações dos teus fiéis e acende neles o fogo do teu amor!".