quarta-feira, 30 de junho de 2010

AS EXIGÊNCIAS DO SEGUIMENTO DE JESUS

No último Domingo, 25 de junho, a liturgia da Palavra nos apresentou o Evangelho de Lc 9, 51-62. Este episódio do evangelho de Lucas se dá no contexto da subida de Jesus para Jerusalém. É um texto muito interessante para refletirmos sobre o amor de Jesus por nós; as condições do seguimento e o prêmio para os que perseveram.

Em primeiro lugar o versículo 51 afirma que aproximavam-se os dias da subida de Jesus. Esta subida tanto pode ser sua ascensão aos céus quanto sua subida para Jerusalém, o lugar onde o sacrifício deveria ser oferecido. André Chouraqui, em sua tradução do evangelho de Lucas segundo a concepção hebraica, afirma na nota explicativa a este versículo: “sua subida: o termo evoca em hebraico não apenas a subida da estrada que conduz a Jerusalém, mas também o sacrifício de ‘ola, o holocausto, que evoca a subida do homem e do animal ao altar do sacrifício”.

Jesus, portanto, sobe a Jerusalém para oferecer o sacrifício, coroar sua passagem pela terra com o gesto máximo de amor à humanidade e obediência ao Pai. Ele sobe para sacrificar, mas não como faziam os judeus que imolavam cordeiros, cabritos e novilhos. Ele sobe para imolar-se a si mesmo por nós. Ele, como afirma o prefácio da Oração Eucarística, revela-se, ao mesmo tempo, sacerdote, altar e cordeiro. Este gesto de Jesus, que selará a Nova e Eterna Aliança no seu sangue, nos faz lembrar as palavras de Paulo aos Gálatas: “Me amou e se entregou por mim” (Gl 2,2).

No trajeto da Galiléia para Jerusalém, Jesus e seus discípulos deveriam passar pela Samaria, mas eis que não querem dar-lhe hospedagem. Isto se deve ao fato de que judeus e samaritanos não se dão, pois estes últimos eram contra a pretensão de Jerusalém de ter a hegemonia religiosa, e afirmavam que Deus deveria ser adorado no Monte Garizim. Por conta desta disputa os samaritanos não dão hospedagem a Jesus, julgando ser ele um peregrino judeu em viagem para Jerusalém (v. 53).

Diante deste episódio, dois discípulos, Tiago e João, também chamados em Mc 3,17 de “Boanerges” ou “filhos do trovão” por causa do temperamento forte, perguntam a Jesus se ele quer que façam descer fogo do céu para consumir os samaritanos (v. 54). Lucas afirma que Jesus os repreendeu (v. 55).

Que lição pode-se tirar deste episódio? Jesus mostra a Tiago e João – os quais provavelmente se recordaram do episódio acontecido com Elias e os soldados que queriam prendê-lo, os quais foram consumidos por um fogo vindo do céu (2Rs 1,10) – que os poderes dados a eles estão a serviço do Reino, da pregação da Palavra e não de desejos pessoais ou vingança. Jesus mostra também que veio ao mundo para que o mundo seja salvo por Ele (Jo 3,17) e que não deseja conquistar com base na força, no poder ou no medo, mas pelo amor. É assim que o Senhor quer conquistar nossos corações: pelo amor. Este amor é demonstrado de modo máximo e sublime na cruz.

Ao continuar o caminho, Jesus se depara com alguém que, aparentemente cheio de entusiasmo, afirma que O seguirá onde quer que Ele vá (v. 57). A iniciativa aqui é do homem. Mas a resposta de Jesus surpreende: “As raposas têm suas tocas, os pássaros tem seus ninhos, mas o Filho do Homem não tem onde reclinar a cabeça” (v. 58). O que Jesus nos ensina com esta resposta?

Aqueles que o procuram para obter ganhos, estabilidade e recompensas neste mundo, se equivocam. O próprio Filho do Homem, embora contasse com a sua casa em Nazaré e a hospitalidade de amigos como Marta, Maria e Lázaro, vive em constante peregrinação, pois é urgente anunciar o Reino de Deus. Ele coloca a missão em primeiro lugar, a vontade do Pai é que o guia. Além disso, Ele não foi bem aceito pelos seus próprios conterrâneos, é rejeitado pelos samaritanos, será maltratado e desprezado pelos judeus e sofrerá a morte de cruz. Aquele que se dispõe a segui-Lo deverá saber que poderá ter o mesmo destino que o Mestre, deverá entregar-se a Ele de corpo e alma, deverá desprender-se e não esperar recompensas mundanas. De fato Ele nos diz: “Se alguém quer vir após mim, renuncie a si mesmo, tome sua cruz e siga-me” (Mt 16,24).

Num outro momento a iniciativa é de Jesus que chama: “Segue-me” (v. 59). Ao que o homem responde que deve primeiro sepultar o pai. Jesus mostra-lhe a urgência no anúncio do Reino, o qual deve vir em primeiro lugar, acima dos laços familiares e obrigações da Lei. Além disso, o discípulo de Jesus é portador de anúncio que supera a morte física, o anúncio da ressurreição e da vida eterna.

Num terceiro momento, novamente alguém pede para segui-Lo, mas quer primeiro despedir-se da família. Quando Elias ungiu Eliseu, permitiu a este ir despedir-se de sua família (1Rs 19,19-21). Jesus é mais exigente que Elias. O Reino de Deus exige dedicação incondicional e urgente. Jesus não desconsidera a realidade da família e seu valor, mas coloca que o Reino de Deus vem em primeiro lugar. Ele afirma, de fato, que devemos buscar primeiro o Reino de Deus (Mt 6,33). Além disso, aquele que faz a experiência da fé olha para frente e faz a experiência de uma novidade de vida. Deixa para trás o passado e lança-se, na esperança e confiança, na direção da vida nova: “Portanto, se alguém está em Cristo, é criatura nova. O que era antigo passou, agora tudo é novo” (2Cor 5,17). E ainda: “Uma coisa, porém, faço: esquecendo o que fica para trás, lanço-me para o que está à frente. Lanço-me em direção à meta, para conquistar o prêmio que, do alto, Deus me chama a receber no Cristo Jesus” (Fl 3,13-14).

A resposta de Jesus ao v. 62: “Quem põe a mão no arado e olha para trás, não está apto para o Reino de Deus”, aponta ainda para a importância do compromisso que empenha a vida por inteiro. Pôr a mão no arado e olhar para trás pode ser visto ainda como inconstância, saudade da vida anterior ao chamado do Senhor, saudade do pecado, dos vícios, enfim, do “homem velho”. Olhar para trás implica não estar plenamente convencido, não estar plenamente comprometido com o Senhor e seu Reino. Infelizmente são tantos os que vivem olhando para trás... É importante lembrarmo-nos destas palavras: “Mas quem perseverar até o fim, esse será salvo” (Mt 10,22 e 24,13).

O Senhor nos quer por inteiro. A Ele – que nos amou primeiro, que foi capaz de enfrentar tanto desprezo, injustiça e sofrimento por nós, que foi capaz de dar a própria vida para que na Sua morte a nossa fosse destruída – devemos, como resposta de amor, dar o nosso coração por inteiro. Ele se ofereceu inteiramente por nós na cruz, Ele se oferece por inteiro a nós na Eucaristia, por que darmos a Ele somente parte de nós? Àquele que por amor se dá a nós por inteiro, entreguemo-nos também por inteiro. Ele nos diz: “Ao vencedor farei sentar-se comigo no meu trono, como também eu venci e estou sentado com meu Pai no seu trono” (Ap 3,21).

A paz de Cristo esteja com todos vocês!

Pe. Edilson de Souza Silva

Diocese de São Miguel Paulista

terça-feira, 15 de junho de 2010

Betesda Sacramento da Reconciliação !!!

De Adão a Cristo !


Deus não tem fronteiras para transformar corações

Cada vez mais eu me convenço de que a arte é um processo redentor. Redenção é esta experiência que podemos fazer de ser retirados de um lugar inferior e ser colocados num lugar nobre. É ser levados da condição "Adâmica" à condição "Crística". Deus tira o ser humano da miséria do pecado e o leva à redenção. O Gênesis é uma história contada de forma metafórica para que entendamos uma verdade que não pode ser compreendida com facilidade. A história de Adão e Eva nos mostra o início do processo redentor, pois o início da nossa redenção está no contato do ser humano com a sua fragilidade, que acontece com a primeira queda.

Quando olhamos para uma criança recém-nascida e um padre nos explica que aquele bebê é pecador, é difícil de entendermos isso, pois é uma criança e não nos passa uma imagem de pecado pela inocência que traz em si. O contexto do pecado original se dá quando temos a consciência de que a criança nasceu da raiz "Adâmica" e não porque ela tenha atos pecaminosos; se eu sou humano, eu sou marcado pelo limite original por fazer parte dessa raiz. Limite é quando sabemos que temos condições precárias. O nosso corpo, por exemplo, tem limites, nossa pele tem limites, pois se nos expormos ao sol forte vamos nos queimar além do limite.

O conceito de limite não é contrário ao humano, ele lembra que não podemos fazer algo que nos faça mal. O problema é quando desconsideramos o limite, que é próprio de nossa humanidade e isso se torna pecado, ou seja, o pecado entra verdadeiramente na nossa vida no dia em que temos consciência dos limites da nossa vida e mesmo assim nos expomos a eles.

A partir do momento em que eu saio do limite, eu caio no pecado. O primeiro pecado da humanidade foi justamente sair do limite. O paraíso é um lugar que foi cercado para que ninguém se perdesse, pois Deus estava ali, é o lugar do encontro, não é prisão. Delimitar o espaço é você proporcionar a alguém a experiência do encontro. Portanto, se você realmente deseja ajudar alguém a chegar a algum lugar, você vai se empenhar em limitar ao máximo a informação que você dá a essa pessoa; mas aí é que está o perigo, quando nós pedimos a informação para alguém que não está muito feliz ou não está muito desejoso de que a gente chegue ao destino.

O primeiro pecado, a queda original, aconteceu porque alguém não compreendeu o conceito de limite, não compreendeu o espaço delimitado e se perdeu. O conceito de limite está cada vez mais claro dentro de nós e por isso seremos mais exigidos, como Deus nos diz: “Quanto mais for dado, muito mais será exigido”.

Jesus nos diz que é impossível viver servindo a dois senhores. Não é possível viver duas realidades que naturalmente não se conciliam. Seus limites precisam ser aclarados, nós precisamos cada vez mais saber sobre o que nós podemos e o que não podemos. O que Cristo realiza na condição de Adão atinge a todos nós, a "cristificação" do universo está acontecendo em nós agora, mas só tomamos posse disso quando estabelecemos o limite do nosso território, quando reconhecemos o nosso paraíso e tomamos conta dele.

O papel do artista de hoje é anunciar as belezas do paraíso, as belezas do limite. É transformar a pedra em ouro, é devolver a graça ao desgraçado; é devolver o sorriso a quem não sabe mais sorrir. Eu estou cada vez mais assustado com o que apresentam às nossas crianças como arte. Se você não fechar as portas do seu paraíso para aquilo que eles oferecem como forma de entretenimento, você terá grandes problemas com seus filhos à medida que eles forem crescendo. O tipo de arte secular que hoje é oferecido a nós e às nossas crianças não molda caráter de ninguém, por isso, devemos ter cuidado com aquilo que deixamos entrar em nossas casas, pois nossos paraísos estão sendo ameaçados continuamente.

Quantas coisas vemos por aí que nos parecem inocentes, mas não o são. Precisamos fazer o exercício diário de analisar aquilo que entra em nossas casas. Será que estamos fazendo o esforço necessário para chegar à Glória do Cristo? Você pega uma criança e tudo o que você fala a ela, as danças que ela aprende e as coisas que ela vê de nós vão sendo registradas na mente dela.

Precisamos saber que é necessário, a cada dia, preservar o nosso encontro com o Senhor, pois se não vivemos esta transição de Adão para o Cristo, o que não será fácil, nos perdemos pelo caminho. Quando o "Adão" vence dentro de nós ou quando "Eva" vence dentro de nós, sabemos muito bem quais são os efeitos disso em nós. Mas quando o Cristo vence dentro de nós, podemos experimentar coisas maravilhosas. Quando olhamos para o que éramos e para o que Cristo nos tornou hoje, vemos a ponte que já atravessamos.

O bom é que sempre teremos duas figuras para observar, podemos perceber o quanto que nós conseguimos ser iguais a Adão e isso não requer esforços. Agora se você colocar ao lado de Adão a condição de Jesus, o jeito como Cristo viveu, o que Ele falava, a maneira como que Ele via as coisas, aí você verá a diferença, e para ser igual a Ele dá trabalho.

Deus não tem fronteiras para transformar corações, Ele não precisa de tempo para transformar nossos corações. A qualquer tempo, a qualquer hora Ele pode nos transformar, pode nos convencer de sairmos da condição de "Adão" ou da condição de "Eva". A condição "Crística" é como uma pedra preciosa e se nós não enfiarmos as mãos nesta terra, se nós não enfiarmos a mão neste "barro de Adão", nunca iremos conseguir retirar esta pedra. Vamos morrer possuindo uma riqueza, mas sem tê-la nas mãos.

Que tudo aquilo que for falado, que tudo aquilo que for ritualizado nos leve ao Cristo, nosso destino é o Cristo, é para Ele que fomos feitos e n'Ele que precisamos ser reconfigurados. A arte é o desafio de tirarmos os pesos que pesam sobre a humanidade, é o alívio de Deus na experiência humana. É ter a possibilidade de proclamar com o corpo e com a arte que Deus é redentor e que o limite estabelecido é o lugar onde a redenção acontece.

O que hoje você poderia pedir que Deus modificasse em você? Qual é a arte que Deus poderia fazer em você hoje? Nós, muitas vezes, somos como uma pedra, um mármore que precisa ser talhado. Hoje o Senhor está aqui e quer nos atingir, quer tirar de nós todos os "excessos", todas as "arestas" que fazem com que nos esbarremos sem alcançar aquilo de que precisamos.

O seu caminho é o Cristo, o seu destino é o Cristo!

Pe. Fábio de Melo

sexta-feira, 11 de junho de 2010

CNBB - Conferência Nacional dos Bispos do Brasil Carta aos agentes de música litúrgica do Brasil

Brasília-DF, 25 de setembro de 2008

ML – C – Nº 0845/08

A liturgia ocupa um lugar central em toda a ação evangelizadora da Igreja. Ela é o “cume para o qual tende a ação da Igreja e, ao mesmo tempo, a fonte de onde emana toda a sua força” (SC 10). Nela, o discípulo realiza o mais íntimo encontro com seu Senhor e dela recebe a motivação e a força máximas para a sua missão na Igreja e no mundo (cf. DGAE nº 67).

Há uma relação muito profunda entre beleza e liturgia. Beleza não como mero esteticismo, mas como modalidade pela qual a verdade do amor de Deus em Cristo nos alcança, fascina e arrebata, fazendo-nos sair de nós mesmos e atraindo-nos assim para a nossa verdadeira vocação: o amor (cf. SCa 35). Unida ao espaço litúrgico, a música é genuína expressão de beleza, tem especial capacidade de atingir os corações e, na liturgia, grande eficácia pedagógica para levá-los a penetrar no mistério celebrado.

Acompanhamos, com entusiasmo e alegria, o florescer de grupos de canto e música litúrgica, grupos instrumentais e vocais, que exercem o importante ministério de zelar pela beleza e profundidade da liturgia através do canto e da música. Sua animação e criatividade encantam muitos daqueles que participam das celebrações litúrgicas em nossas comunidades. Ao soar dos primeiros acordes e ao canto da primeira nota, sentimos mais profundamente a presença de Deus.

Lembramos alguns aspectos importantes que contribuem para a grandeza do mistério celebrado.

1. A importância da letra na música litúrgica - a letra tem a primazia, a música está a seu serviço. A descoberta da beleza de um canto litúrgico passa necessariamente pela análise cuidadosa do conteúdo do texto e da poesia. A beleza estética não é o único critério. Muitas músicas cantadas em nossas liturgias estão distanciadas do contexto celebrativo. “Verdadeiramente, em liturgia, não podemos dizer que tanto vale um cântico como outro; é necessário evitar a improvisação genérica e o canto deve integrar-se na forma própria da celebração” (SCa 42). Não é possível cantar qualquer canto em qualquer momento ou em qualquer tempo. O canto “precisa estar intimamente vinculado ao rito, ou seja, ao momento celebrativo e ao tempo litúrgico” (DGAE 76). Antes de escolher um canto litúrgico é preciso aprofundar o sentido dos textos bíblicos, do tempo litúrgico, da festa celebrada e do momento ritual.

2. A participação da assembléia no canto - o Concílio Vaticano II enfatiza a participação ativa, consciente, plena, frutuosa, externa e interna de todos os fiéis (cf. SC 14). O canto litúrgico não é propriedade particular de um cantor, animador, ou de um seleto grupo de cantores. A liturgia permite alguns momentos para solos (tanto vocais quanto instrumentais), porém a assembléia deve ter prioridade na execução dos cantos litúrgicos. O animador ou o cantor tem a importante missão, como elemento intrínseco ao serviço que presta à comunidade, de favorecer o canto da assembléia, ora sustentando, ora fazendo pequenos gestos de regência, contribuindo para a participação ativa de toda a comunidade celebrante.

3. Cuidado com o volume dos instrumentos e microfones - em muitas comunidades, o excessivo volume dos instrumentos, como também a grande quantidade de microfones para os cantores, às vezes, não contribuem para um mergulho no mistério celebrado, antes, provocam a agitação interior e a dispersão, além de inibir a participação da assembléia no canto. Pede-se cuidado com o volume do som, a fim de que as celebrações sejam mais orantes , pois tudo deve contribuir para a beleza do momento ritual.

4. Cultivar uma espiritualidade litúrgica - os cantores e instrumentistas exercem um verdadeiro ministério litúrgico (SC 29). A celebração não é um momento para fazer um show, para apresentação de qualidades e aptidões. Os cantores e instrumentistas devem, antes de tudo, mergulhar no mistério, ouvir e acolher com a devida atenção a Palavra de Deus e participar intensamente de todos os momentos da celebração. Música litúrgica e espiritualidade litúrgica devem andar juntas, são duas asas de um mesmo vôo, duas nascentes de uma mesma fonte.

Invocamos as luzes do Espírito Santo sobre todos os agentes de música litúrgica de nosso país. Reconhecemos o valoro do ministério exercido a serviço de celebrações reveladoras da beleza suprema do Deus criador e da atualização do Mistério Pascal de Jesus Cristo.

D. Joviano de Lima Júnior, SSS

Arcebispo de Ribeirão Preto e

Presidente da Comissão Episcopal Pastoral para a Liturgia

domingo, 6 de junho de 2010

O valor de um abraço !

Gestos concretos favorecem o desenvolvimento físico

Sempre e de alguma forma, no reino animal, os filhotes, ao nascerem, são cercados de cuidados, de atenção e proteção. Os gatinhos, cachorrinhos, leõezinhos, entre outros, recebem várias lambidas de suas mães, e estas os aconchegam junto de si aquecendo-os. As aves colocam seus filhotes embaixo de suas asas; outras mães entregam os seus filhos aos cuidados dos pais e partem em busca de alimento para o sustento deles [filhotes]. Conforme esses animais vão se desenvolvendo estes cuidados vão diminuindo, até que os filhotes se tornem capazes de lutar pela própria sobrevivência; no entanto, alguns continuam vivendo junto de seu bando.

Um pouco diferente dos nossos amigos animais, parece-nos que as pessoas necessitam constantemente deste calor humano. Diversas pesquisas revelam que o contato físico, o toque, o olhar e a proteção, transmitidos por gestos concretos, favorecem o desenvolvimento físico, psíquico e espiritual do ser humano.

Spitz, em suas pesquisas com bebês institucionalizados, com ou sem a presença de suas mães, chega à conclusão de que aqueles que não são trazidos ao colo para ser amamentados e que são deixados por longo período sozinhos em seus berços desenvolvem o que ele chama de "marasmo", um estado de letargia, de não expressão e podem até chegar a óbito precoce, sem causa específica.

Winnicott, ao estudar crianças abandonadas, órfãs da Segunda Guerra Mundial, observa que o nível de delinquência e agressividade é altíssimo entre elas. Entretanto, pesquisas atuais revelam que crianças em condições semelhantes às estudadas pelo psicanalista [Winnicott], mas que receberam auxílio por intermédio de pessoas que as acolheram, dispensando-lhes cuidados físicos e emocionais, desenvolveram habilidades sociais, perspectivas de um futuro construtivo e força para enfrentar as adversidades oferecidas pela vida, de forma a se tornarem pessoas mais humanas e altruístas.

A pesquisadora americana Tiffany Field demonstra, a partir de suas pesquisas, que o toque, o contato físico, além de aliviar o estresse e a ansiedade, também diminui a criminalidade. A privação do contato físico causa diversos distúrbios emocionais e de sono, abuso de álcool e drogas. A falta de sono leva à irritabilidade, a qual afeta o sistema imunológico e favorece o aparecimento de diversas doenças, entre elas: diarréias, prisão de ventre e infecções respiratórias.

A partir desses fatos basta nos perguntarmos: como estou me relacionando com as pessoas, principalmente com as mais próximas? Eu já abracei alguém hoje? Liguei para alguém a fim de saber como ele está?

Se não, não perca tempo, abrace, beije, brinque, acaricie, sorria … Você não se arrependerá e viverá mais, feliz e saudável.

Mara S. Martins Lourenço
maralourenco@geracaophn.com
Psicóloga e Membro da Comunidade de Aliança Canção Nova

quarta-feira, 2 de junho de 2010

Corpus Christi !

Esta semana nos convida a viver com mais intensidade o Mistério da Eucaristia, que é fonte e cume de nossa vida, de nossa espiritualidade. Esta pedagogia da liturgia da Igreja nos ensina a abraçar o mistério de nossa fé, depois de vivermos a tempos atrás o Mistério de Jesus na sua paixão, morte e ressurreição, celebramos a semana retrasada a Festa de Pentecostes e Domingo passado A Santíssima Trindade e na próxima quinta-feira 03 de Junho O Mistério de Cristo presente na Eucaristia.

A origem da Solenidade do Corpo e Sangue de Cristo remonta ao Século XIII. A Santa Igreja sentiu necessidade de realçar a presença real do “Cristo todo” no pão consagrado. A Festa de Corpus Christi foi instituída pelo Papa Urbano IV com a Bula ‘Transiturus’ de 11 de agosto de 1264, para ser celebrada na quinta-feira após a Festa da Santíssima Trindade, que acontece no domingo depois de Pentecostes. Aconteceu, porém, que quando o padre Pedro de Praga, da Boêmia, celebrou uma Missa na cripta de Santa Cristina, em Bolsena, Itália, aconteceu um milagre eucarístico: da hóstia consagrada começaram a cair gotas de sangue sobre o corporal após a consagração. Alguns dizem que isto ocorreu porque o padre teria duvidado da presença real de Cristo na Eucaristia.

O Papa Urbano IV (1262-1264), que residia em Orvieto, cidade próxima de Bolsena, onde vivia S. Tomás de Aquino, informado do milagre, então, ordenou ao Bispo Giacomo que levasse as relíquias de Bolsena a Orvieto. Isso foi feito em procissão. Quando o Papa encontrou a Procissão na entrada de Orvieto, teria então pronunciado diante da relíquia eucarística as palavras: “Corpus Christi”.

O Papa Urbano IV foi o cônego Tiago Pantaleão de Troyes, arcediago do Cabido Diocesano de Liège na Bélgica, que recebeu o segredo das visões da freira agostiniana, Juliana de Mont Cornillon, que exigiam uma festa da Eucaristia no Ano Litúrgico. A ‘Fête Dieu’ (Festa de Deus) começou na paróquia de Saint Martin em Liège, em 1230, com autorização do arcediago para procissão eucarística só dentro da igreja, a fim de proclamar a gratidão a Deus pelo benefício da Eucaristia. Em 1247, aconteceu a 1ª procissão eucarística pelas ruas de Liège, já como festa da diocese. Depois se tornou festa nacional na Bélgica.

O ofício foi composto por São Tomás de Aquino o qual, por amor à tradição litúrgica, serviu-se em parte de Antífonas, Lições e Responsórios já em uso em algumas Igrejas. A festa mundial de Corpus Christi foi decretada em 1264. O decreto de Urbano IV teve pouca repercussão, porque o Papa morreu em seguida. Mas se propagou por algumas igrejas, como na diocese de Colônia na Alemanha, onde Corpus Christi é celebrada desde antes de 1270. A procissão surgiu em Colônia e difundiu-se primeiro na Alemanha, depois na França e na Itália. Em Roma é encontrada desde 1350.

A Eucaristia é um dos sete Sacramentos e foi instituído na Última Ceia, quando Jesus disse: “Este é o meu corpo… isto é o meu sangue… fazei isto em memória de mim” (Cf. Lc 22,19-20). Porque a Eucaristia foi celebrada pela 1ª vez na Quinta-Feira Santa, Corpus Christi se celebra sempre numa quinta-feira após o Domingo da Santíssima Trindade.

No Brasil

No Brasil, a festa passou a integrar o calendário religioso de Brasília, em 1961, quando uma pequena procissão saiu da Igreja de madeira de Santo Antônio e seguiu até a Igrejinha de Nossa Senhora de Fátima. A tradição de enfeitar as ruas surgiu em Ouro Preto, cidade histórica do interior de Minas Gerais. A celebração de Corpus Christi consta de uma missa, procissão e adoração ao Santíssimo Sacramento.

A procissão lembra a caminhada do povo de Deus, que é peregrino, em busca da Terra Prometida. No Antigo Testamento esse povo foi alimentado com maná, no deserto. Hoje, ele é alimentado com o próprio Corpo de Cristo. Durante a Missa o celebrante consagra duas hóstias: uma é consumida e a outra, apresentada aos fiéis para adoração. Essa hóstia permanece no meio da comunidade, como sinal da presença de Cristo vivo no coração de sua Igreja.

“Aquele que come a minha Carne e bebe o meu Sangue tem a vida eterna, e eu o ressuscitarei no último dia” (Jo 6,55).

Oremos: Na festa do Teu corpo e sangue
dá-nos Senhor a
certeza da Tua presença
Nos dons eucarísticos!
Na festa da vida,
Que deve ser cada eucaristia,
Ensina-nos Senhor
A comunhão com os irmãos,
Radicada na unidade sacramental.
Ensina-nos que nunca é compreensível
Celebrar o gesto que significa
Sacrifício e dom da vida,
União com Cristo e com os irmãos
E fomentar divisões,
Cultivar discórdias e manter desigualdades!
Impele-nos a viver cada eucaristia
Como atores comprometidos
Convictos da Tua presença
E não como simples espectadores

Minha benção Fraterna.

Padre Luizinho, Com. Canção Nova.