quarta-feira, 30 de junho de 2010

AS EXIGÊNCIAS DO SEGUIMENTO DE JESUS

No último Domingo, 25 de junho, a liturgia da Palavra nos apresentou o Evangelho de Lc 9, 51-62. Este episódio do evangelho de Lucas se dá no contexto da subida de Jesus para Jerusalém. É um texto muito interessante para refletirmos sobre o amor de Jesus por nós; as condições do seguimento e o prêmio para os que perseveram.

Em primeiro lugar o versículo 51 afirma que aproximavam-se os dias da subida de Jesus. Esta subida tanto pode ser sua ascensão aos céus quanto sua subida para Jerusalém, o lugar onde o sacrifício deveria ser oferecido. André Chouraqui, em sua tradução do evangelho de Lucas segundo a concepção hebraica, afirma na nota explicativa a este versículo: “sua subida: o termo evoca em hebraico não apenas a subida da estrada que conduz a Jerusalém, mas também o sacrifício de ‘ola, o holocausto, que evoca a subida do homem e do animal ao altar do sacrifício”.

Jesus, portanto, sobe a Jerusalém para oferecer o sacrifício, coroar sua passagem pela terra com o gesto máximo de amor à humanidade e obediência ao Pai. Ele sobe para sacrificar, mas não como faziam os judeus que imolavam cordeiros, cabritos e novilhos. Ele sobe para imolar-se a si mesmo por nós. Ele, como afirma o prefácio da Oração Eucarística, revela-se, ao mesmo tempo, sacerdote, altar e cordeiro. Este gesto de Jesus, que selará a Nova e Eterna Aliança no seu sangue, nos faz lembrar as palavras de Paulo aos Gálatas: “Me amou e se entregou por mim” (Gl 2,2).

No trajeto da Galiléia para Jerusalém, Jesus e seus discípulos deveriam passar pela Samaria, mas eis que não querem dar-lhe hospedagem. Isto se deve ao fato de que judeus e samaritanos não se dão, pois estes últimos eram contra a pretensão de Jerusalém de ter a hegemonia religiosa, e afirmavam que Deus deveria ser adorado no Monte Garizim. Por conta desta disputa os samaritanos não dão hospedagem a Jesus, julgando ser ele um peregrino judeu em viagem para Jerusalém (v. 53).

Diante deste episódio, dois discípulos, Tiago e João, também chamados em Mc 3,17 de “Boanerges” ou “filhos do trovão” por causa do temperamento forte, perguntam a Jesus se ele quer que façam descer fogo do céu para consumir os samaritanos (v. 54). Lucas afirma que Jesus os repreendeu (v. 55).

Que lição pode-se tirar deste episódio? Jesus mostra a Tiago e João – os quais provavelmente se recordaram do episódio acontecido com Elias e os soldados que queriam prendê-lo, os quais foram consumidos por um fogo vindo do céu (2Rs 1,10) – que os poderes dados a eles estão a serviço do Reino, da pregação da Palavra e não de desejos pessoais ou vingança. Jesus mostra também que veio ao mundo para que o mundo seja salvo por Ele (Jo 3,17) e que não deseja conquistar com base na força, no poder ou no medo, mas pelo amor. É assim que o Senhor quer conquistar nossos corações: pelo amor. Este amor é demonstrado de modo máximo e sublime na cruz.

Ao continuar o caminho, Jesus se depara com alguém que, aparentemente cheio de entusiasmo, afirma que O seguirá onde quer que Ele vá (v. 57). A iniciativa aqui é do homem. Mas a resposta de Jesus surpreende: “As raposas têm suas tocas, os pássaros tem seus ninhos, mas o Filho do Homem não tem onde reclinar a cabeça” (v. 58). O que Jesus nos ensina com esta resposta?

Aqueles que o procuram para obter ganhos, estabilidade e recompensas neste mundo, se equivocam. O próprio Filho do Homem, embora contasse com a sua casa em Nazaré e a hospitalidade de amigos como Marta, Maria e Lázaro, vive em constante peregrinação, pois é urgente anunciar o Reino de Deus. Ele coloca a missão em primeiro lugar, a vontade do Pai é que o guia. Além disso, Ele não foi bem aceito pelos seus próprios conterrâneos, é rejeitado pelos samaritanos, será maltratado e desprezado pelos judeus e sofrerá a morte de cruz. Aquele que se dispõe a segui-Lo deverá saber que poderá ter o mesmo destino que o Mestre, deverá entregar-se a Ele de corpo e alma, deverá desprender-se e não esperar recompensas mundanas. De fato Ele nos diz: “Se alguém quer vir após mim, renuncie a si mesmo, tome sua cruz e siga-me” (Mt 16,24).

Num outro momento a iniciativa é de Jesus que chama: “Segue-me” (v. 59). Ao que o homem responde que deve primeiro sepultar o pai. Jesus mostra-lhe a urgência no anúncio do Reino, o qual deve vir em primeiro lugar, acima dos laços familiares e obrigações da Lei. Além disso, o discípulo de Jesus é portador de anúncio que supera a morte física, o anúncio da ressurreição e da vida eterna.

Num terceiro momento, novamente alguém pede para segui-Lo, mas quer primeiro despedir-se da família. Quando Elias ungiu Eliseu, permitiu a este ir despedir-se de sua família (1Rs 19,19-21). Jesus é mais exigente que Elias. O Reino de Deus exige dedicação incondicional e urgente. Jesus não desconsidera a realidade da família e seu valor, mas coloca que o Reino de Deus vem em primeiro lugar. Ele afirma, de fato, que devemos buscar primeiro o Reino de Deus (Mt 6,33). Além disso, aquele que faz a experiência da fé olha para frente e faz a experiência de uma novidade de vida. Deixa para trás o passado e lança-se, na esperança e confiança, na direção da vida nova: “Portanto, se alguém está em Cristo, é criatura nova. O que era antigo passou, agora tudo é novo” (2Cor 5,17). E ainda: “Uma coisa, porém, faço: esquecendo o que fica para trás, lanço-me para o que está à frente. Lanço-me em direção à meta, para conquistar o prêmio que, do alto, Deus me chama a receber no Cristo Jesus” (Fl 3,13-14).

A resposta de Jesus ao v. 62: “Quem põe a mão no arado e olha para trás, não está apto para o Reino de Deus”, aponta ainda para a importância do compromisso que empenha a vida por inteiro. Pôr a mão no arado e olhar para trás pode ser visto ainda como inconstância, saudade da vida anterior ao chamado do Senhor, saudade do pecado, dos vícios, enfim, do “homem velho”. Olhar para trás implica não estar plenamente convencido, não estar plenamente comprometido com o Senhor e seu Reino. Infelizmente são tantos os que vivem olhando para trás... É importante lembrarmo-nos destas palavras: “Mas quem perseverar até o fim, esse será salvo” (Mt 10,22 e 24,13).

O Senhor nos quer por inteiro. A Ele – que nos amou primeiro, que foi capaz de enfrentar tanto desprezo, injustiça e sofrimento por nós, que foi capaz de dar a própria vida para que na Sua morte a nossa fosse destruída – devemos, como resposta de amor, dar o nosso coração por inteiro. Ele se ofereceu inteiramente por nós na cruz, Ele se oferece por inteiro a nós na Eucaristia, por que darmos a Ele somente parte de nós? Àquele que por amor se dá a nós por inteiro, entreguemo-nos também por inteiro. Ele nos diz: “Ao vencedor farei sentar-se comigo no meu trono, como também eu venci e estou sentado com meu Pai no seu trono” (Ap 3,21).

A paz de Cristo esteja com todos vocês!

Pe. Edilson de Souza Silva

Diocese de São Miguel Paulista

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